segunda-feira, 10 de julho de 2017

Diferença salarial entre homens e mulheres persiste também em Blumenau

Dados locais do Ministério do Trabalho confirmam levantamento do IBGE divulgado semana passada que apontou defasagem de 23,6% entre os gêneros


Pergunte a alguém na rua se existe igualdade entre homens e mulheres e você terá respostas divididas. Ao olhar os holerites que eles e elas recebem no mercado de trabalho, praticamente não sobra margem para dúvidas. Um levantamento do IBGE com base em dados do Cadastro Central de Empresas (Cempre) divulgado no início do mês aponta que os homens receberam 23,6% a mais do que as mulheres em 2015. Os salários médios foram de R$ 2.708,22 para eles e de R$ 2.191,59 para elas. Em Santa Catarina, a diferença é ainda maior, de 29,1% – vencimento médio de R$ 2.904,7 para os trabalhadores e de apenas R$ 2.248,8 para as trabalhadoras.

O estudo não traz dados sobre diferença salarial em Blumenau, mas informações do Ministério do Trabalho compiladas pelo Sistema de Informações Gerenciais de Apoio à Decisão (Sigad) mostram que a discrepância entre o que recebem homens e mulheres na cidade acompanha a desigualdade do restante do país, com defasagem de 24,9% no ano de 2015.

Trabalhadores do sexo masculino recebiam naquele ano em médiaR$ 2.575,50, enquanto o gênero feminino ganhava em média R$ 2.062,30. A construção civil, em que elas costumam ser engenheiras ou técnicas, é o único setor onde mulheres conseguem ganhar mais que os homens em Blumenau. Por outro lado, indústria extrativa, de transformação e setor de eletricidade, gás e água são onde estão os maiores abismos salariais.

Mas o que explica o fato de elas ainda ganharem menos do que eles? Para o economista e professor da Furb e coordenador do Sigad, Nazareno Schmoeller, a raiz do problema está numa questão antiga que ainda não mudou. A mulher entrou mais tarde no mercado formal de trabalho, com o intuito de ajudar no orçamento e, inicialmente, o conceito era de que não precisaria ganhar o mesmo que os maridos.

– Por algum tempo isso persistiu. Só que as mulheres não ficaram paradas, foram se emancipando e se qualificando até mais do que os homens. Mesmo assim, o salário delas não acompanhou isso – avalia, pontuando que a maior parte dos cargos de chefia é ocupada por homens e que, neste flanco, as diferenças de remuneração são ainda mais gritantes.

Como caminhar para mudanças
A questão cultural e a resistência do mercado em aderir às mudanças pleiteadas por movimentos em defesa das mulheres são as principais razões dessa defasagem salarial ainda persistir. A professora de Psicologia do Trabalho da Furb, Catarina Gewehr, sustenta que mesmo em empresas que pagam salários iguais é comum que quando surge um trabalho extra ele recaia sobre a mulher, por ser considerada mais sensível, paciente ou compreensiva.

– Nos acostumamos a fazer desse jeito e mudar é dispendioso, exige lembrar o tempo todo que todos são iguais. Um jeito seguro de mudar isso são as leis. Nas contratações por concurso público, por exemplo, os salários e condições de trabalho são os mesmos para homens ou mulheres – pontua.

Como mudar este quadro? Para Catarina, o caminho está em novos processos, em outra cultura gerencial e no treinamento dos supervisores que chefiam as equipes. O maior acesso à informação para os trabalhadores, que quando possuem mais formação conseguem evitar empresas que remuneram de forma desigual homens e mulheres, é outro possível aliado para a transformação. Algo que já está em movimento – de 2005 a 2015, a diferença passou de 36,6% para 24,9% entre todos os trabalhadores. Mas ainda distante da igualdade almejada.

Blumenau tem 14,7 mil mulheres com curso superior
Mulheres ganham menos porque ocupam cargos mais baixos ou porque produzem menos. Esses argumentos são comuns em discussões de redes sociais, sobretudo entre grupos partidários dedicados à defesa apaixonada do neoliberalismo. Para o economista e professor da Furb Nazareno Schmoeller, os números desmentem quem vincula a defasagem salarial à formação ou à produtividade.

Isso porque a formação delas é superior a dos homens no mercado atual. Dados do Ministério do Trabalho cruzados pelo Sigad mostram que em Blumenau há 14,7 mil mulheres com curso superior completo contra 11,3 mil homens na mesma condição. Os homens só passam a ser maioria entre o ensino fundamental e médio. Surpreendentemente, os salários das mulheres são ainda menores em comparação com os dos homens quando destacados apenas os trabalhadores com formação universitária.

Em 2015, o salário médio do homem formado em Blumenau era de R$ 5.457, contra R$ 3.738 das mulheres com a mesma formação, uma diferença de 46%. O índice é menor do que a defasagem de 55,3% registrada em 2010, mas está longe de ser algo a ser comemorado. Afinal, segundo Schmoeller, no ritmo atual seriam necessários mais 29 anos para equiparar os salários de homens e mulheres com curso superior na cidade.

– Elas conquistaram espaço, mas não a mesma valorização do homem no mercado de trabalho. Tem evoluído, mas muito lentamente. Tenho a impressão de que somos ainda uma sociedade machista. E não há nenhuma razão para nós não permitirmos o avanço da participação das mulheres – defende.



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