terça-feira, 27 de março de 2018

Escravidão continua a ter impactos sociais, políticos e culturais profundos, diz chefe da ONU

Memorial Permanente para honrar as Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos, localizado na Praça dos Visitantes, na sede da ONU em Nova York. Foto: ONU / Rick Bajornas

Marcando o Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos – 25 de março –, o secretário-geral das Nações Unidas destacou nesta segunda-feira (26) que, embora a prática abominável tenha sido abolida no século 19, continua a ter impactos sociais, culturais e políticos profundos.

“Esta data foi estabelecida não apenas para reconhecer um capítulo terrível da história da humanidade, mas também para iluminar os perigos do racismo e do preconceito de hoje”, disse António Guterres.

“Esse trágico episódio de sofrimento humano em massa deve ser relatado às gerações mais jovens por meio da educação, oferecendo um reflexo preciso dos relatos históricos, incluindo os muitos atos de bravura e resistência realizados pelos escravos.”

O chefe da ONU disse que é igualmente importante destacar as contribuições feitas por pessoas de ascendência africana em todo o mundo.

No entanto, apesar das conquistas e do reconhecimento dos afrodescendentes, existem lacunas que os impedem de alcançar a plena realização de seus direitos, com muitos sofrendo com o racismo e o ódio diariamente.

“Precisamos reconhecer o trabalho que ainda precisa ser feito”, enfatizou Guterres, conclamando todos a se comprometer com todas as vidas e a lutar contra o trabalho forçado e outros horrendos abusos de direitos humanos.

Durante o evento, realizado na Assembleia Geral, em Nova Iorque, Graciela J. Dixon, ex-presidente do Supremo Tribunal do Panamá, destacou que a atual geração de afrodescendentes é o testemunho vivo das lutas e triunfos de seus ancestrais.

“Honramos a memória das vítimas e sobreviventes do tráfico transatlântico de escravos, continuando nossa luta comum para garantir que todas as pessoas vivam com dignidade e justiça”, pediu.

“É por causa de tais homens e mulheres que podemos nos reunir aqui hoje para marcar nossa determinação de nunca mais, na história humana, repetir o horrendo crime de escravidão, nem para nosso povo nem para qualquer outro ser humano na terra”, acrescentou Dixon.

Ela ressaltou que o direito de todos desfrutarem e viverem em um mundo livre, com a erradicação total e final do racismo e da discriminação, é atualmente um desejo.

Olhar para trás e tirar forças das gerações passadas – que perseveraram apesar da esmagadora discriminação e segregação – vai ajudar a nos trazer para a realidade, acrescentou.

Comércio transatlântico de escravos nos alerta para perigos do racismo

O comércio transatlântico de escravos “epicamente vergonhoso” foi o maior movimento forçado e legalmente sancionado de pessoas na história da humanidade. Mais de 15 milhões de homens, mulheres e crianças da África foram escravizados. A lembrança é de António Guterres em sua mensagem em vídeo para a ocasião.

A data foi estabelecida para reconhecer um “capítulo brutal” na história humana e para aumentar a conscientização sobre os perigos do racismo e do preconceito hoje, destacou Guterres.

“Ao celebrarmos o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos neste ano [2018], honremos aqueles que pereceram ou sofreram sob a escravidão. Vamos celebrar os ganhos das pessoas de ascendência africana. E vamos pressionar todos os dias e em todos os lugares para defender a dignidade de todo ser humano”, disse Guterres.

Década internacional

Uma das ações das Nações Unidas na temática é a Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), proclamada pela resolução 68/237 da Assembleia Geral.

A data proporciona uma estrutura sólida para as Nações Unidas, os Estados-membros, a sociedade civil e todos os outros atores relevantes para tomar medidas eficazes para a implementação do programa de atividades nos três eixos da iniciativa: reconhecimento, justiça e desenvolvimento.

Existem aproximadamente 200 milhões de pessoas vivendo nas Américas que se identificam como afrodescendentes. Muitos mais vivem em outros lugares do mundo, fora do continente africano.

Seja como descendentes das vítimas do tráfico transatlântico de escravos ou como migrantes mais recentemente, estas pessoas constituem alguns dos grupos mais pobres e marginalizados. Estudos e pesquisas de órgãos nacionais e internacionais demonstram que pessoas afrodescendentes ainda têm acesso limitado a educação de qualidade, serviços de saúde, moradia e segurança. Saiba mais sobre a Década em decada-afro-onu.org.

O Sistema ONU no Brasil também promove a campanha Vidas Negras, cujo objetivo é ampliar, junto à sociedade, gestores públicos, sistema de Justiça, setor privado e movimentos sociais, a visibilidade do problema da violência contra a juventude negra no país.

Com isso, a ONU quer chamar atenção e sensibilizar para os impactos do racismo na restrição da cidadania de pessoas negras, influenciando atores estratégicos na produção e apoio de ações de enfrentamento da discriminação e violência. Saiba mais em nacoesunidas.org/vidasnegras.

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