quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Souto-Maior defende diálogo para planejamento cooperativo

A platéia aplaudiu com  vigor, ontem à noite, a palestra do professor Dr. em Planejamento, Joel Souto-Maior, na aula magna do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (leia currículo na página da FURB).

Apresentado na mesa pelos professores Oklinger Mantovaneli Júnior (coordenador do PPGDR) e Carlos Alberto Cioce Sampaio (orientado por ele no mestrado e no doutorado), Souto-Maior falou durante 40 minutos e respondeu por 20. Mesmo porque sua abordagem provoca polêmicas, especialmente considerando ambientes competitivos, em que pese já ter sido utilizada, com variados graus de sucesso, em 286 organizações públicas e privadas. 
Ao cumprimentar o palestrante, o reitor João Natel reafirmou o compromisso com o fortalecimento dostricto sensu para a geração de novos conhecimentos e o compromisso com o desenvolvimento sustentável. E anunciou que está em estudos ampliar possibilidades de acesso aostricto sensu da FURB (em especial no doutorado), "numa condição muito próxima da gratuidade". 
Na mesa de autoridades: Oklinger Mantovaneli Jr., Carlos Sampaio, Clóvis Reis, João Natel e Joel Souto-Maior (esq.p/dir.). 
Planejamento cooperativo
As ideias de Souto-Maior estão no seu livro de 533 páginas, recém-lançado, trazendo 20 anos de vivência com esta abordagem, no Brasil e no exterior, em prol do "esforço de um planejamento cooperativo para que todos ganhem".

O foco da obra é uma abordagem metodológica de planejamento, gestão e avaliação do que o autor chama de "planeação", um termo do século 19. "Resgatei com o propósito de indicar que a abordagem está voltada em particular para ação, não só à ação estratégica, mas também para a ação comunicativa", afirma.

A PEC procura ajudar organizações a definirem o que é prioritário para elas mesmas e a se tornarem efetivas e sustentáveis. "Uma organização efetiva é aquela capaz de identificar seus exigentes (stakeholders) e atender seus legítimos interesses". A tese remete à adoção da "racionalidade comunicativa em substituição à racionalidade instrumental competitiva". Ao beber em intelectuais como Jürgen Habermas (Teoria da Ação Comunicativa) e Henry Mintzberg, Souto-Maior explica que não basta adotar práticas de planejamento e gestão participativas:

_ "É necessário que a participação seja qualificada segundo os pressupostos da racionalidade comunicativa (...). As estratégias, ações e decisões organizacionais devem ser transparentes; não devem resultar de coações e que, a todos concernidos, seja dada a oportunidade de participar em condições de igualdade (...). A abordagem deve facilitar que sejam levados em consideração não só os interesses da organização, mas todos os interesses legítimos em jogo e que a organização aceite sua responsabilidades social, procurando incorporar esses interesses nas suas ações, pois só assim será efetiva e adquire credibilidade moral e legitimidade, e, consequentemente, tornando-se sustentável". 
Nesta concepção, qualquer organização, segundo Souto-Maior, passa de fato a integrar a sociedade civil "ao adotar o diálogo como principal mecanismo de coordenação do agir e da resolução de conflitos, porque em essência a sociedade civil é justamente o espaço onde os interesses individuais são acomodados em função dos interesses dos outros". 

A PEC encoraja a utilização de procedimentos que "representam recursos morais, para facilitar os acordos, e os compromissos para o estabelecimento do equilíbrio de interesses". 
Aos críticos da aplicabilidade da abordagem, no sentido de que é utópica, Souto-Maior rebate a crença "bastante generalizada e infundada" de que o ser humano e as organizações são irremediavelmente egoístas. "A aceitação da PEC revela que objeções ao diálogo como mecanismo do agir organizacional são mais ideológicas do que reais". 

E completa: "As experiências com a PEC têm demonstrado que quando os participantes se engajam em um diálogo visando a construção de estratégias são capazes de por de lado ou se desligarem de interesses puramente egoístas e paroquiais e buscarem um acordo que satisfaça a todos, ou na pior da hipóteses, a maioria".


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