segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Desastre de 2008 +10 no vale do Itajaí

O livro foi organizado pelo prof. Marcos A. Mattedi, doutorando Leandro Ludwig e doutoranda Maria Roseli Rossi Ávila.

"Desastre de 2008+10 Vale do Itajaí: Água, Gente e Política - Aprendizados" é uma publicação coletiva do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Gestão de Risco de Desastres, da FURB, organizada pelo Prof. Dr. Marcos Mattedi e por Leandro Ludwig e  Maria Roseli Rossi Avila, em 2018, ano que marca uma década do maior desastre socioambiental do Vale do Itajaí.

Desastres são oportunidades de aprendizado e transformação. O objetivo desta publicação é a reflexão sobre a evolução da gestão de risco de desastres nos dez anos que se passaram desde o desastre de 2008. Esta reflexão é desenvolvida em 21 artigos, com olhares multidisciplinares sobre a questão. Mantendo viva a memória do desastre, esperamos contribuir para a resiliência evolutiva da comunidade regional.

O livro é dedicado à memória da Prof. Dra. Lucia Sevegnani.


quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Países precisam “triplicar esforços” para conter aumento de temperatura a 2 ºC




As emissões globais estão aumentando e os compromissos dos países são insuficientes para atingir os objetivos, mas o entusiasmo crescente do setor privado e o potencial da inovação oferecem novos caminhos.

As conclusões fazem parte do Relatório de Emissões de 2018, apresentado na terça-feira, 27 de novembro, em Paris, pela ONU Meio Ambiente.

O principal documento das Nações Unidas sobre este tema apresenta todos os anos um relatório sobre a lacuna de emissões, a diferença entre os níveis previstos em 2030 e os valores necessários para atingir as metas de 2 °C e 1,5°C.


Segundo a pesquisa, as emissões globais atingiram níveis históricos e ainda não refletem sinais de pico, o momento em que as emissões param de aumentar e começam a diminuir.

Os autores afirmam que apenas 57 países, que representam 60% das emissões globais, estão no caminho certo. Conjugados, o aumento das emissões e o atraso nas ações significa que o défice deste ano é maior do que nunca.

A análise “deixa claro que o atual ritmo de ação nacional é insuficiente para atingir as metas do Acordo de Paris.” Os autores concluem que as nações devem triplicar os esforços para atingir os 2 °C, e multiplicar cinco vezes para atingir 1,5 °C.

Aviso
A vice-diretora executiva da ONU Meio Ambiente, Joyce Msuya, disse que se o relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas, IPCC, “representou um alarme de incêndio global, este relatório é a investigação desse incêndio."

Segundo Msuya, “a ciência é clara e, apesar de toda a ambiciosa ação climática que tem sido observada, os governos precisam agir com mais rapidez e urgência.” Ela acredita que o mundo alimenta esse fogo enquanto os meios para extingui-lo estão ao alcance.

Uma continuação das tendências atuais deve resultar em um aquecimento global de cerca de 3 °C até o final do século, com a contínua elevação da temperatura depois desse ano.

Apesar de explicar que ainda existe um caminho para manter o aquecimento global abaixo de 2 °C, o relatório afirma que “o tipo de ação drástica e de grande escala necessária urgentemente ainda não foi visto.”

O relatório oferece um roteiro sobre o tipo de ação transformadora que é necessária, dizendo que tem de envolver governos municipais, estaduais e regionais, empresas, investidores, instituições de ensino superior e organizações da sociedade civil.

Segundo a pesquisa, esses atores não-estatais “estão cada vez mais comprometidos com uma ação climática ousada” e “são cada vez mais reconhecidos como um elemento-chave para alcançar as metas globais de emissões.”

Taxas

Também é sugerida uma política fiscal diferente. O cientista-chefe da ONU Meio Ambiente, Jian Liu, explicou que "quando os governos adotam medidas de política fiscal para subsidiar alternativas de baixa emissão e tributar combustíveis fósseis podem estimular os investimentos certos no setor energético e reduzir significativamente as emissões de carbono."

Segundo o especialista, o potencial de usar a política fiscal como um incentivo é cada vez mais reconhecido, com 51 iniciativas de taxas de carbono agora em vigor ou programadas, cobrindo cerca de 15% das emissões globais.

O relatório calcula que, se todos os subsídios aos combustíveis fósseis fossem eliminados, as emissões globais de carbono poderiam ser reduzidas em até 10% até 2030.

O relatório foi apresentado uma semana antes da 24ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP24, que acontece na Polônia entre 2 e 14 de dezembro.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Pesquisa desenvolve fertilizante orgânico a partir da biomassa de plantas

Estudos científicos mostraram que o fertilizante desenvolvido pelos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia reduz as perdas que ocorrem na hora da aplicação na lavoura
Fotos: Ana Lúcia Ferreira

Produzido a partir da biomassa aérea (parte da planta que fica para fora da terra) de espécies leguminosas, o N-verde é um fertilizante orgânico vegetal rico em nitrogênio (N) e de fácil aplicação. “Ele tem os nutrientes essenciais para as plantas: fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre; e micronutrientes, como boro, ferro, manganês, molibdênio e zinco”, explica o pesquisador Ednaldo Araújo, da Embrapa Agrobiologia (RJ).

Comparado a outros materiais orgânicos, a concentração de nitrogênio no N-verde é elevada: cerca de 4%. Por isso, ele é indicado como uma fonte de adubação nitrogenada.

Estudos científicos mostraram que o fertilizante desenvolvido pelos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia reduz as perdas que ocorrem na hora da aplicação na lavoura. Enquanto nos produtos comerciais as perdas por volatização (transformação em gás) chegam a 50%, no N-verde é de no máximo 15%, resultando em economia para o agricultor.

Sabendo que os fertilizantes farelados apresentam limitações quanto à aplicação no campo, não se adequam ao uso em máquinas distribuidoras de adubos e favorecem as perdas de nitrogênio por volatização de amônia, os pesquisadores desenvolveram um produto em forma de grânulos ou pellets.

“A ideia é disponibilizar aos agricultores um fertilizante padronizado quanto aos teores de nutrientes e tamanho das partículas, alta densidade e baixo volume, o que facilita a aplicação na lavoura”, complementa Araújo.

A princípio, o produto foi desenvolvido para aplicação em hortaliças folhosas, onde os testes de campo apontaram para um produto de excelentes resultados. Mas a resposta também foi boa em lavouras de milho e feijão. A expectativa é que ao ser disponibilizado pela indústria, o produto também tenha boa aceitação para aplicação em plantas ornamentais como uma fonte de nitrogênio.

Processo de produção
De acordo com os pesquisadores, para produzir o N-verde é necessário uma leguminosa fixadora de nitrogênio com alta capacidade de gerar matéria orgânica com baixo custo de produção. “Nós procuramos aproveitar dois processos biológicos abundantes na natureza, a fotossíntese e a fixação biológica de nitrogênio, que permitem que se acumule carbono e nitrogênio a partir da biomassa vegetal”, detalha José Guilherme, pesquisador da Embrapa Agrobiologia.

A maioria das plantas leguminosas fixadoras de nitrogênio tem boa concentração de nutrientes e pode ser utilizada para a produção do N-verde. Mas a gliricídia (Gliricidia sepium) é a que vem sendo mais utilizada por ser uma planta perene, que permite poda até quatro vezes ao ano e oferece uma capacidade de produção de biomassa grande, sem altos custos de implantação.

Com um hectare de gliricídia é possível produzir até 6 toneladas de N-verde por ano. Mas essa quantidade pode variar dependendo do espaçamento em que for feito o plantio. “A partir do momento que possuímos a biomassa, nós temos todo um protocolo para produzir o N-verde, que envolve a melhor forma de secar, de moer e até mesmo de produzir os pellets ou os grãos”, pontua Araújo. Após a coleta, a produção do N-verde leva de sete a dez dias.

O N-verde pode suprir essa lacuna no mercado e tende a ter seu custo de prateleira menor que produtos similares

Uso na agricultura orgânica

Um dos gargalos para a expansão da agricultura orgânica é a falta de nitrogênio. Para suprir a demanda desse nutriente, os agricultores muitas vezes utilizam resíduos agrossilvipastoris, que apresentam cerca de 3% de N, o que é adequado para uso como fertilizante orgânico. Porém, a variação nesse percentual, além de problemas relacionados a contaminantes químicos e biológicos, limita o seu uso.

A falta de padronização aumenta também as incertezas quanto aos resultados da utilização desses produtos. Por isso, um dos resíduos mais difundidos é a torta de mamona, que apresenta aproximadamente 5% de nitrogênio. Mas, nesse caso, o limitante é o valor, superior em cerca de 400% em relação ao custo da ureia, que é o fertilizante nitrogenado mais utilizado na agricultura convencional no Brasil.

Para Ednaldo Araújo, o N-verde pode suprir essa lacuna no mercado e tende a ter seu custo de prateleira menor que produtos similares. “É importante frisar que não se trata de substituir o uso da adubação verde nas culturas, pois mesmo com o uso de espécies adubadoras, é preciso fazer todo manejo e ainda o aporte de nitrogênio. Essa reposição pode ser realizada pelo N-verde”, pontua o pesquisador. Araújo esclarece também que por haver necessidade de grandes áreas para o plantio da leguminosa e de uma fábrica para transformação da biomassa em grãos ou pellets, o N-verde tende a ser um fertilizante produzido por empreendedores por meio de cooperativas ou indústrias.

Uma das principais fontes orgânicas de nitrogênio utilizadas na agricultura convencional é o esterco. Porém nem todo produtor tem animais em sua propriedade, o que dificulta a obtenção do insumo. Para esses agricultores, o N-verde também tende a ser uma boa alternativa, pois além de ter uma concentração bem maior de nitrogênio, não precisa ser compostado e possui risco baixíssimo de contaminação, ao contrário dos estercos.

Testes avançados aferiram a eficiência do produto

Para os estudos de eficiência do N-verde, os pesquisadores fizeram testes avançados com uso de isótopo estável (variante do elemento químico nitrogênio) que funciona como marcador do caminho do nitrogênio, desde a liberação do fertilizante até a absorção pela planta.

Os resultados revelam que a eficiência do N-verde é de 10%, ou seja, de cada 100 quilos colocados na planta, ela absorve 10, no primeiro ciclo, o que é similar aos demais fertilizantes orgânicos. A pesquisa avança agora no estudo para a redução de custos de produção e coleta da biomassa.

Seja na agricultura orgânica, onde o uso de fertilizantes orgânicos vegetais e isentos de contaminantes é uma exigência, ou na agricultura convencional, onde os altos custos limitam o uso de fertilizantes orgânicos, o N-verde pode ser uma alternativa ou um complemento. O pesquisador Ednaldo Araújo enfatiza que um país com dimensões continentais e clima tropical como o Brasil tem uma aptidão natural para produzir biomassa. “E por que não produzir essa biomassa e colocá-la no mercado para suprir a demanda que existe?”, finaliza.